AMO-TE SILENCIOSAMENTE

 

As nossas mães costumavam sentar-se no banco em frente as nossas casas virado para o jardim e conversavam toda a tarde e por isso sei que nós conhecemos desde aí, conhecemos-mos antes de conhecer o mundo, tal era a conversa delas que eu quietinho ansiava por te conhecer.

Hoje conheço-te melhor que ninguém. Sei mais de ti do que mim mesmo. Sei de todas as tuas qualidades e de todos os teus defeitos. Sei de todas as tuas manias e de todos os teus feitos. Sei de todos os teus sonhos e de todas as tuas batalhas. Sei de todos os teus silêncios e de todas as tuas celebrações… Enfim, “sei-te de cor”.  

Recordo-me de crescermos juntos a brincar no tal jardim, de juntos construirmos castelos na areia do baloiço, de juntos corrermos em direcção ao escorrega, de juntos passarmos horas a fio a falar disto e daquilo no sobe e desce, de juntos aprendermos andar de bicicleta, de juntos irmos de mãos dadas para casa… Hoje não brincamos mais. Ambos crescemos. Hoje sei de tudo igual mas não somos mais os mesmos. Hoje já não precisas que eu te empurre no baloiço, e também já não fazemos os campeonatos de bicicleta, dizes que ficas-te demasiado crescida para isso. Hoje já não queres ficar no sobe e desce até as estrelas iluminarem o céu. Hoje levo-te a casa igual, pois o meu sentido de protecção mantém-se, mas tu já não me dás aquele beijo suave na minha bochecha corada. Hoje já não és só minha. Hoje tens sempre outro plano, outra pessoa para estar contigo. E eu, eu que te queria só para mim, como faço? Hoje eu amo-te. És a mulher fantástica com quem eu queria cumprir aquela promessa inocente do “viveram felizes para sempre”. Mas hoje, hoje também és a minha melhor amiga, e por isso hoje amo-te secretamente... Amo-te silenciosamente. 

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By: Débora Macedo Afonso